Nas anotações do evangelista Mateus, Jesus nos
define quais os maiores mandamentos da Lei: Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
espírito - o maior e o primeiro – e Amarás o teu próximo, como a ti mesmo - o segundo,
semelhante ao primeiro.1
Frequentemente, nas tentativas diversas de
explicação desta orientação evangélica, referem-se à expressão teu próximo fazendo alusão estritamente
aos outros seres humanos, ou seja, aos homens e às mulheres. Entretanto,
queremos propor aqui, nesta reflexão, que aquela expressão, proferido pelo
Cristo, também seja aplicado à Natureza, representada pelos seus diversos
Reinos, que não somente o Hominal, visto que a nossa constituição material dela
provem e toda a nossa sustentação tem nela a sua fonte, e no seu substrato
estamos assentados.
Não há dúvida, porém, de que o ponto de partida será
sempre o amar a si mesmo, isto é, o auto-amor, somente possível com a
promoção do autoconhecimento. Através
da meditação, podemos ir pouco a pouco
desvendando o que há, em nosso íntimo, de qualidades já conquistadas e de
negatividades a serem transmutadas. Regando umas e combatendo outras, estaremos
embarcando na grande viagem ao encontro do nosso Ser Essencial ou do Eu
Divino.
À medida que formos experienciando este auto-amor e
tomando consciência da nossa dependência do contato com o outro para
construirmos a felicidade anelada, começaremos a estender esta experiência - do
auto-amor - ao próximo. Estaremos desenvolvendo, desta forma, o altruísmo, uma
vez que este - o próximo - é uma extensão de nós e que não se acende uma lâmpada - a luz do auto-amor - e se coloca debaixo do alqueire.2
Considerando que a Natureza também é o nosso
próximo, não poderíamos nos amar sem amá-la, pois que dependemos do seu
equilíbrio para garantirmos a nossa subsistência. O homem que derruba a própria
habitação e ateia fogo à lavoura que plantou não pode ter a pretensão de estar
se amando. E o que é a Natureza senão uma sublime moradia e
um vasto e fértil campo que nos foram concedidos pela Divindade para
habitarmos e cultivarmos as culturas do amor?
André Luiz3 nos esclarece que “da superestrutura
dos astros à infra-estrutura subatômica, tudo está mergulhado na substância viva da Mente de Deus, como os peixes e as plantas da
água estão contidos no oceano imenso”, e que “(...) agimos e reagimos uns sobre os outros,
através da energia mental em que nos renovamos constantemente, criando,
alimentando e destruindo formas e situações, paisagens e coisas, na
estruturação dos nossos destinos” (grifos nossos).
Nesse sentido, amar o próximo, isto é, as outras
pessoas e a Natureza - animais, plantas, solo, atmosfera, hidrografia,
bases geológicas etc. - é, pois, se amar e amar
a Deus, visto que reagimos uns sobre
os outros. E todo o amor que dedicarmos aos seres criados representará consequentemente o amor a
Deus, o Excelso Criador, pois repercutirá na substância viva de Sua Mente,
na qual estamos mergulhados.
Amar a Natureza ou o Meio Ambiente não é, pois, uma
simples questão de fazer um favor ou
de estar antenado com a modernidade,
como tentam apregoar muitos discursos panfletários; é, antes de tudo, uma
demonstração de que já estamos aprendendo a amar a nós mesmos.
A literatura espírita nos presenteia com vários
exemplos de pessoas que passaram pelo
nosso planeta e que desenvolviam uma relação extremamente amorosa com a
Natureza.
Miramez nos relata o caso de João Evangelista, o vidente de Patmos, que é flagrado
pelos soldados romanos que o diligenciavam por ocasião de sua prisão na ilha de
Patmos, pregando a Boa Nova do Reino para
um enorme cardume, cujos peixes se comprimiam como se fossem pessoas em comício.
4 Este mesmo Espírito, cerca de 12 séculos depois, animando a
personalidade iluminada de Francisco de Assis, mais uma vez se destaca por
comunicar-se com o Irmão Vento, o Irmão
Sol, a Irmã Lua, o Irmão Lobo, etc.
Ramiro Gama5
narra a relação amorosa de Chico Xavier com o seu cão Lorde, que, no relato do próprio Chico,
era seu companheiro de oração, o acompanhando nas preces da manhã e da noite, quando
punha as mãos sobre a cama, abaixava a cabeça
e ficava assim em atitude de recolhimento. Lorde endereçava olhares meigos, compreensivos e às vezes
cheios de lágrimas nas preces mais sentidas proferidas pelo Médium. Outros
nos contam sobre Chico Xavier conversando com as formiguinhas, convencendo-as a
bater em retirada de uma plantação, antes que colocassem inseticida no
formigueiro.
Para muitos, estas histórias talvez deixem a
impressão de exagero no trato com os bichos, com a Natureza. É provável, porém,
que estas pessoas assim agissem por já
terem alcançado em elevado grau o auto-amor e o amor pelo próximo,
compreendendo e reconhecendo a íntima ligação e a interdependência entre os
diversos Reinos da Mãe Natureza. Miramez elucida-nos que a conveniência de agir assim com os animais está ligada à necessidade
de se exercitar a prática do Amor. Segundo ele, para compreendermos esta
possibilidade de comunicação entre os humanos e os outros Reinos da Natureza, é
imperioso admitir que “tanto as águas, como os peixes, estão carregados de elementos
imponderáveis à ciência dos homens” (grifo nosso). 6
Provavelmente é a estes elementos imponderáveis que o Espírito Ângelo Inácio denomina elementais.7 Segundo ele,
Os elementais são entidades
espirituais relacionadas com os elementos da Natureza; (...)são essenciais à
totalidade da vida no mundo. (...) através dos elementais e de sua ação direta
nos elementos é que chegam às mãos do homem as ervas, flores e frutos, bem como
o oxigênio, a água e tudo o mais que a ciência denomina como sendo forças ou
produtos naturais. Na Natureza, esses seres se agrupam, segundo suas
afinidades. (...). Essas famílias elementais (...), estão profundamente ligadas a este ou aquele elemento: fogo,
terra, água e ar.
Ainda acrescenta o autor espiritual de Aruanda, que
cada um destes elementos tem seus elementais
específicos: as salamandras do fogo,
os avissais da terra, as ondinas e ninfas da água, os silfos
ou sílfides do ar e os duendes e gnomos agindo nas florestas.
Estas informações nos revelam que a Natureza é mais
viva do que imaginávamos, possuindo uma inteligência
especial, que a faz reagir ao nosso amor ou desamor.
É de bom alvitre, então, que amemos o Meio Ambiente
em que estamos inseridos. E Quem ama cuida, preserva, alimenta, protege,
utiliza com racionalidade, não abusa, divide com os outros que necessitam agora e guarda para aqueles que ainda virão; ou é previdente, lembrando que os que virão são, ninguém mais, ninguém
menos, que nós mesmos ou os nossos entes queridos, pois estamos todos submetidos
à Lei do Renascimento, respeitando aos imperativos de Evolução e Progresso da
Humanidade.
Infelizmente, a humanidade terrena vem estabelecendo
uma relação de total desamor para com o Meio Ambiente, o que se intensificou a
partir da inauguração da Era Industrial, iniciada na Europa no século XVIII e
depois se espalhando para os demais continentes. A manipulação de tecnologias
cada vez mais avançadas a partir de então levou o homem a uma dominação
descontrolada sobre os recursos naturais.
Segundo Emmanuel8, esta postura perversa da
sociedade perante a Natureza havia sido prevista pelo próprio Cristo, já há
dois mil anos. No discurso proferido por ocasião da visita a uma
elevada estação de repouso espiritual, onde jaziam os primeiros mártires do Cristianismo,
recém-desencarnados, devorados pelas feras no Circo Máximo de Roma no ano 58 da
era cristã, Jesus anuncia:
Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade
de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos
homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos... As impiedades
terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno,
em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da
minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus
emissários: ‘Ó Jerusalém, Jerusalém’! (grifo nosso)
O
que são estes fluidos venenosos da
ignomínia e da iniquidade aos quais se refere o Administrador do Planeta?
Certamente são os raios dos pensamentos deletérios materializados na destruição sem precedentes dos
recursos naturais não renováveis, baseada em um modelo de desenvolvimento
ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto; são as
ações humanas – ou desumanas? - que promovem os desmatamentos, a destruição da
biodiversidade, a desertificação, a diminuição da evapotranspiração, a alteração
nos ciclos climáticos gerais e locais, o aquecimento global, o derretimento das
geleiras e das calotas polares, o aumento do efeito estufa e do buraco na
camada de ozônio etc. Tudo justificável, dizem, por uma busca da satisfação das
necessidades da sociedade moderna.
Os Espíritos Superiores respondem a Allan Kardec9 que “a terra produziria sempre
o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela
produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o
que poderia ser aplicado no necessário”.
Empregar no supérfluo
e não saber contentar-se com o necessário
representa a ganância dos indivíduos e das empresas, principalmente as
detentoras de capitais produtivos, todos envolvidos por uma espécie de obsessão
em consumir e maximizar dividendos.
Nesse
sentido, André Trigueiro10 denuncia a ação das mídias escrita e
eletrônica enunciando que “a publicidade se encarrega de despertar apetites
vorazes de consumo do não necessário, renovando a cada
nova campanha a promessa de felicidade
que advém da posse de mais um objeto”.
E
o resultado destas campanhas publicitárias, tanto mais inteligentes quanto
capitosas, é uma multidão de pessoas mantidas sob hipnose, portadoras de uma
vontade superlativa em consumir, usar, desfrutar e descartar, nunca antes
registrada no Planeta.
A
organização Não Governamental Worldwatch Institute, na última versão do seu
relatório de 2004 afirma que:
o consumismo desenfreado é a maior ameaça à
humanidade, e que os altos índices de obesidade e de dívidas pessoais, menos
tempo livre e meio ambiente danificado são sinais de que o consumo excessivo
está diminuindo a qualidade de vida de muitas pessoas.
É
imperioso o despertar da humanidade, buscando uma educação do indivíduo e da
coletividade global, baseada na ética cristã do tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles, 11
compreendendo que o que fazemos à Natureza é a nós mesmos que o fazemos,
pois que todas as reações de seus elementos se voltarão contra ou a favor de
nossas vidas, agora e no futuro. Urge pratiquemos um modelo de desenvolvimento
econômico verdadeiramente sustentável, regrando o nosso viver em detrimento da
durabilidade dos recursos naturais e da vida.
A augusta
profecia do Cristo citada acima, segundo a qual o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando
as entranhas em dolorosos cataclismos, já é uma realidade. O planeta deu
início à sua transição rumo à regeneração e já estão ocorrendo os movimentos migratórios
de Espíritos em torno da Terra, uns saindo, outros chegando. A maior parte de
nós poderá ser degredada deste orbe, caso continuemos envoltos e embebidos de orgulho
e egoísmo, praticando o mal contra tudo e contra todos.
Acordemos todos
nós, e busquemos ser merecedores de continuarmos neste Planeta-Mãe na sua fase
regenerativa, na convivência dos iluminados convidados de Jesus vindos de
Alcíone que, conforme nos revela Manoel Philomeno de Miranda,12 já programam as suas reencarnações junto a nós,
para atuar e impulsionar para o bem todas as instituições referentes à
política, às artes, á medicina, à ciência, à religião, à educação e, sem
dúvida, ao manejo equilibrado dos recursos do meio ambiente.
É tempo de
construirmos a Nova Terra, cuja atmosfera será constituída das moléculas de
amor oriundas da mente e do coração humanos, numa relação de irmandade
constante dos homens entre si e destes com a Natureza.
REFERÊNCIAS
6. Francisco de Assis - João Nunes Maia, cap. 1 p. 25.
7. Aruanda – Ângelo Inácio/Robson Pinheiro, p. 104-112.
8. Há
Dois Mil Anos, Parte II, capítulo VI – Emmanuel/Francisco Cândido Xavier.
9. O
Livro dos Espíritos, item 705 – Allan Kardec.
10. André
Trigueiro
11. Mateus 7, 6.12-14
12. Transição Planetária (Manoel Philomeno)
mas uma prova de que fazemos parte de um todo, e de movimento continuo na existencia. pois antes mesmos de pensarmos no outros devemos preservarmos o planeta para nós próprios, em proximas existencias.
ResponderExcluirÉ isso mesmo, grande Salvador! Para nós e todos aqueles que já compreendem e acreditam na pluralidade das existências, é um motivo a mais para nos preocuparmos com os cuidados com a "casa" que continuará nos abrigando no futuro.
ResponderExcluirObrigado pela visita.
Um abraço!