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domingo, 20 de maio de 2012

AMAR O MEIO AMBIENTE É AMAR A NÓS MESMOS - ARTIGO



Nas anotações do evangelista Mateus, Jesus nos define quais os maiores mandamentos da Lei: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito - o maior e o primeiro – e Amarás o teu próximo, como a ti mesmo - o segundo, semelhante ao primeiro.1
Frequentemente, nas tentativas diversas de explicação desta orientação evangélica, referem-se à expressão teu próximo fazendo alusão estritamente aos outros seres humanos, ou seja, aos homens e às mulheres. Entretanto, queremos propor aqui, nesta reflexão, que aquela expressão, proferido pelo Cristo, também seja aplicado à Natureza, representada pelos seus diversos Reinos, que não somente o Hominal, visto que a nossa constituição material dela provem e toda a nossa sustentação tem nela a sua fonte, e no seu substrato estamos assentados.
Não há dúvida, porém, de que o ponto de partida será sempre o amar a si mesmo, isto é, o auto-amor, somente possível com a promoção do autoconhecimento. Através da meditação, podemos  ir pouco a pouco desvendando o que há, em nosso íntimo, de qualidades já conquistadas e de negatividades a serem transmutadas. Regando umas e combatendo outras, estaremos embarcando na grande viagem ao encontro do nosso Ser Essencial ou do Eu Divino.
À medida que formos experienciando este auto-amor e tomando consciência da nossa dependência do contato com o outro para construirmos a felicidade anelada, começaremos a estender esta experiência - do auto-amor - ao próximo. Estaremos desenvolvendo, desta forma, o altruísmo, uma vez que este - o próximo - é uma extensão de nós e que não se acende uma lâmpada - a luz do auto-amor - e se coloca debaixo do alqueire.2
Considerando que a Natureza também é o nosso próximo, não poderíamos nos amar sem amá-la, pois que dependemos do seu equilíbrio para garantirmos a nossa subsistência. O homem que derruba a própria habitação e ateia fogo à lavoura que plantou não pode ter a pretensão de estar se amando. E o que é a Natureza senão uma sublime moradia e um vasto e fértil campo que nos foram concedidos pela Divindade para habitarmos e cultivarmos as culturas do amor?
André Luiz3 nos esclarece que “da superestrutura dos astros à infra-estrutura subatômica, tudo está mergulhado na substância viva da Mente  de Deus, como os peixes e as plantas da água estão contidos no oceano imenso”, e que “(...) agimos e reagimos uns sobre os outros, através da energia mental em que nos renovamos constantemente, criando, alimentando e destruindo formas e situações, paisagens e coisas, na estruturação dos nossos destinos” (grifos nossos).
Nesse sentido, amar o próximo, isto é, as outras pessoas e a Natureza - animais, plantas, solo, atmosfera, hidrografia, bases geológicas etc. - é, pois, se amar e amar a Deus, visto que reagimos uns sobre os outros. E todo o amor que dedicarmos aos seres criados representará consequentemente o amor a Deus, o Excelso Criador, pois repercutirá na substância viva de Sua Mente, na qual estamos mergulhados.
Amar a Natureza ou o Meio Ambiente não é, pois, uma simples questão de fazer um favor ou de estar antenado com a modernidade, como tentam apregoar muitos discursos panfletários; é, antes de tudo, uma demonstração de que já estamos aprendendo a amar a nós mesmos.
A literatura espírita nos presenteia com vários exemplos  de pessoas que passaram pelo nosso planeta e que desenvolviam uma relação extremamente amorosa com a Natureza.
Miramez nos relata o caso de João Evangelista, o vidente de Patmos, que é flagrado pelos soldados romanos que o diligenciavam por ocasião de sua prisão na ilha de Patmos, pregando a Boa Nova do Reino para um enorme cardume, cujos peixes se comprimiam como se fossem pessoas em comício. 4 Este mesmo Espírito, cerca de 12 séculos depois, animando a personalidade iluminada de Francisco de Assis, mais uma vez se destaca por comunicar-se com o Irmão Vento, o Irmão Sol, a Irmã Lua, o Irmão Lobo, etc.
Ramiro Gamanarra a relação amorosa de Chico Xavier com o seu cão Lorde, que, no relato do próprio Chico, era seu companheiro de oração, o acompanhando nas preces da manhã e da noite, quando punha as mãos sobre a cama, abaixava a cabeça e ficava assim em atitude de recolhimento. Lorde endereçava olhares meigos, compreensivos e às vezes cheios de lágrimas nas preces mais sentidas proferidas pelo Médium. Outros nos contam sobre Chico Xavier conversando com as formiguinhas, convencendo-as a bater em retirada de uma plantação, antes que colocassem inseticida no formigueiro.

Para muitos, estas histórias talvez deixem a impressão de exagero no trato com os bichos, com a Natureza. É provável, porém,  que estas pessoas assim agissem por já terem alcançado em elevado grau o auto-amor e o amor pelo próximo, compreendendo e reconhecendo a íntima ligação e a interdependência entre os diversos Reinos da Mãe Natureza. Miramez elucida-nos que a conveniência de agir assim com os animais está ligada à necessidade de se exercitar a prática do Amor. Segundo ele, para compreendermos esta possibilidade de comunicação entre os humanos e os outros Reinos da Natureza, é imperioso admitir que “tanto as águas, como os peixes, estão carregados de elementos imponderáveis à ciência dos homens” (grifo nosso). 6
Provavelmente é a estes elementos imponderáveis que o Espírito Ângelo Inácio denomina elementais.7 Segundo ele,

Os elementais são entidades espirituais relacionadas com os elementos da Natureza; (...)são essenciais à totalidade da vida no mundo. (...) através dos elementais e de sua ação direta nos elementos é que chegam às mãos do homem as ervas, flores e frutos, bem como o oxigênio, a água e tudo o mais que a ciência denomina como sendo forças ou produtos naturais. Na Natureza, esses seres se agrupam, segundo suas afinidades. (...). Essas famílias elementais (...), estão profundamente  ligadas a este ou aquele elemento: fogo, terra, água e ar.

Ainda acrescenta o autor espiritual de Aruanda, que cada um destes elementos tem seus elementais específicos: as salamandras do fogo, os avissais da terra, as ondinas e ninfas da água, os silfos ou sílfides do ar e os duendes e gnomos agindo nas florestas.
Estas informações nos revelam que a Natureza é mais viva do que imaginávamos, possuindo uma inteligência especial, que a faz reagir ao nosso amor ou desamor.
É de bom alvitre, então, que amemos o Meio Ambiente em que estamos inseridos. E Quem ama cuida, preserva, alimenta, protege, utiliza com racionalidade, não abusa, divide com os outros que necessitam agora e guarda para aqueles que ainda virão; ou é previdente, lembrando que os que virão são, ninguém mais, ninguém menos, que nós mesmos ou os nossos entes queridos, pois estamos todos submetidos à Lei do Renascimento, respeitando aos imperativos de Evolução e Progresso da Humanidade.
Infelizmente, a humanidade terrena vem estabelecendo uma relação de total desamor para com o Meio Ambiente, o que se intensificou a partir da inauguração da Era Industrial, iniciada na Europa no século XVIII e depois se espalhando para os demais continentes. A manipulação de tecnologias cada vez mais avançadas a partir de então levou o homem a uma dominação descontrolada sobre os recursos naturais.
Segundo Emmanuel8, esta postura perversa da sociedade perante a Natureza havia sido prevista pelo próprio Cristo, já há dois mil anos. No discurso proferido por ocasião da visita a uma elevada estação de repouso espiritual, onde jaziam os primeiros mártires do Cristianismo, recém-desencarnados, devorados pelas feras no Circo Máximo de Roma no ano 58 da era cristã, Jesus anuncia:

Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos... As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: ‘Ó Jerusalém, Jerusalém’! (grifo nosso)

O que são estes fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade aos quais se refere o Administrador do Planeta? Certamente são os raios dos pensamentos deletérios materializados na destruição sem precedentes dos recursos naturais não renováveis, baseada em um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto; são as ações humanas – ou desumanas? - que promovem os desmatamentos, a destruição da biodiversidade, a desertificação, a diminuição da evapotranspiração, a alteração nos ciclos climáticos gerais e locais, o aquecimento global, o derretimento das geleiras e das calotas polares, o aumento do efeito estufa e do buraco na camada de ozônio etc. Tudo justificável, dizem, por uma busca da satisfação das necessidades da sociedade moderna.
Os Espíritos Superiores respondem a Allan Kardec9 que “a terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário”.
Empregar no supérfluo e não saber contentar-se com o necessário representa a ganância dos indivíduos e das empresas, principalmente as detentoras de capitais produtivos, todos envolvidos por uma espécie de obsessão em consumir e maximizar dividendos.
Nesse sentido, André Trigueiro10 denuncia a ação das mídias escrita e eletrônica enunciando que “a publicidade se  encarrega de  despertar  apetites vorazes de consumo do não necessário, renovando a cada  nova campanha a  promessa  de  felicidade que advém da  posse  de mais um objeto”.
E o resultado destas campanhas publicitárias, tanto mais inteligentes quanto capitosas, é uma multidão de pessoas mantidas sob hipnose, portadoras de uma vontade superlativa em consumir, usar, desfrutar e descartar, nunca antes registrada no Planeta.
A organização Não Governamental Worldwatch Institute, na última versão do seu relatório de 2004 afirma que:

o consumismo desenfreado é a maior ameaça à humanidade, e que os altos índices de obesidade e de dívidas pessoais, menos tempo livre e meio ambiente danificado são sinais de que o consumo excessivo está diminuindo a qualidade de vida de muitas pessoas.

É imperioso o despertar da humanidade, buscando uma educação do indivíduo e da coletividade global, baseada na ética cristã do tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles, 11 compreendendo que o que fazemos à Natureza é a nós mesmos que o fazemos, pois que todas as reações de seus elementos se voltarão contra ou a favor de nossas vidas, agora e no futuro. Urge pratiquemos um modelo de desenvolvimento econômico verdadeiramente sustentável, regrando o nosso viver em detrimento da durabilidade dos recursos naturais e da vida.
A augusta profecia do Cristo citada acima, segundo a qual o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos, já é uma realidade. O planeta deu início à sua transição rumo à regeneração e já estão ocorrendo os movimentos migratórios de Espíritos em torno da Terra, uns saindo, outros chegando. A maior parte de nós poderá ser degredada deste orbe, caso continuemos envoltos e embebidos de orgulho e egoísmo, praticando o mal contra tudo e contra todos.
Acordemos todos nós, e busquemos ser merecedores de continuarmos neste Planeta-Mãe na sua fase regenerativa, na convivência dos iluminados convidados de Jesus vindos de Alcíone que, conforme nos revela Manoel Philomeno de Miranda,12 já programam as suas reencarnações junto a nós, para atuar e impulsionar para o bem todas as instituições referentes à política, às artes, á medicina, à ciência, à religião, à educação e, sem dúvida, ao manejo equilibrado dos recursos do meio ambiente.
É tempo de construirmos a Nova Terra, cuja atmosfera será constituída das moléculas de amor oriundas da mente e do coração humanos, numa relação de irmandade constante dos homens entre si e destes com a Natureza.


REFERÊNCIAS


1.      S. Mateus, cap. XXII, vv. 34 a 40.
2.      S. Mateus, cap. V, vv. 15.
3.      Nos Domínios da Mediunidade, cap. 1.
4.      Francisco de Assis - João Nunes Maia, cap. 1 pp. 22-25.
5.      Lindos Casos de Chico Xavier - Ramiro Gama p.80.
            6.      Francisco de Assis - João Nunes Maia, cap. 1 p. 25.
            7.      Aruanda – Ângelo Inácio/Robson Pinheiro, p. 104-112.
            8.      Há Dois Mil Anos, Parte II, capítulo VI – Emmanuel/Francisco Cândido Xavier.
            9.      O Livro dos Espíritos, item 705 – Allan Kardec.
          10.      André Trigueiro
          11.      Mateus 7, 6.12-14
          12.     Transição Planetária (Manoel Philomeno)
Livros consultados:




2 comentários:

  1. mas uma prova de que fazemos parte de um todo, e de movimento continuo na existencia. pois antes mesmos de pensarmos no outros devemos preservarmos o planeta para nós próprios, em proximas existencias.

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  2. É isso mesmo, grande Salvador! Para nós e todos aqueles que já compreendem e acreditam na pluralidade das existências, é um motivo a mais para nos preocuparmos com os cuidados com a "casa" que continuará nos abrigando no futuro.
    Obrigado pela visita.
    Um abraço!

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